Assim como praticamente todos os comerciantes, Laís Aparício Benite, dona da Loja Mamãe Coruja, que trabalha com enxovais e acessórios e roupas para bebês e crianças até três anos, se viu em uma encruzilhada assim que a pandemia de Covid-19 chegou a Curitiba. Como a loja fica dentro de uma galeria comercial, o estabelecimento teve que seguir a mesma determinação dos shoppings centers, ou seja, fechou em 19 de março.
“A loja não tinha uma atuação forte nas redes sociais, então, ela dependia exclusivamente do público presencial e ainda, daquele público local do Centro Cívico, que são os servidores de órgãos públicos. escritórios, empresas, consultórios, enfim, dependia do público que frequenta diariamente o Centro Cívico. Com a pandemia, tudo mudou, pois diversos setores começaram a trabalhar em home office, inclusive os órgãos públicos, consultas foram adiadas, enfim, tudo ao redor, cessou as atividades físicas”, lembra a empresária.
Poderia ser o fim da loja, mas ela, juntamente com uma amiga publicitária que mora em Portugal, teve uma ideia: Mala em Casa. O negócio, que tem dois anos de existência, não só continua de pé, como passou a faturar 40% a mais, o que só acontecia no Natal.
Como o público alvo da loja são os bebês e eles perdem roupas mensalmente, Laís partiu da ideia de que as mães não poderiam deixar de comprar roupas para seus filhos e que as gestantes continuariam precisando fazer os enxovais mesmo durante o isolamento social. “Então como iremos atendê-las? Através da Mala em Casa, que é um sistema em que as pessoas nos contactam por Whatsapp e solicitam o que gostariam que fosse em nossa mala.
Preparamos de acordo com o solicitado e enviamos a mala em até três dias na casa dos clientes junto com as máquinas de pagamento. E é sem compromisso. Se a cliente resolver não comprar nada, tudo bem”, explica ela.
A ideia parecia ótima, mas Laís teria que confiar nas clientes, afinal para não ter contato com elas teria que deixar as máquinas de pagamento para que as consumidoras fizessem as contas e pagassem.
“Decidimos acreditar na honestidade das pessoas, arriscamos. Além disso, pensei: se não arriscarmos, o prejuízo pode ser maior, já que a loja está fechada e eu tenho estoque parado”.
Ela começou com uma mala, personalizada e uma máquina de pagamento. Hoje, já são seis malas e seis máquinas: “Nenhuma peça de roupa sumiu, ninguém pagou um centavo a menos. E nossas vendas estão 40% maiores. Tudo é uma surpresa: o sucesso da ideia e principalmente a honestidade das pessoas”, conta Laís. As malas com roupas já foram enviadas para mais de 40 residências.
As malas são todas higienizadas antes do envio e além disso, a cliente recebe luvas descartáveis e um frasco de gel para as peças. As instruções seguem todas em mensagem de whatsapp. “Tudo para garantir a segurança do cliente”.
Pequenos negócios paranaenses se adaptam durante a crise
O empreendedorismo de Laís Aparício Benite, dona da Loja Mamãe Coruja, se encaixa perfeitamente a uma pesquisa divuglada pelo Sebrae em parceria com a FGV, nesta quarta-feira (15). O levantamento feito entre os dias 25 e 30 de junho, apontou que 66% das empresas do Estado mudaram a maneira de funcionar e que 22% delas interromperam o funcionamento. Na pesquisa anterior, realizada em abril, a interrupção temporária havia afetado 61% das empresas e apenas 29% tinham realizado adequações para continuar em atividade.
Os dados fazem parte da 5ª edição da Pesquisa “O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, que teve a participação de 6.470 Microempreendedores Individuais (MEI), Microempresas e Empresas de Pequeno Porte em todo o país. No Paraná, foram ouvidos 512 empresários.
O levantamento aponta que desde o início da pandemia, 800 mil empresas brasileiras conseguiram estancar a queda no faturamento. A proporção de pequenos negócios com redução no faturamento caiu de 89% para 84%, desde março, quando foi feita a primeira edição da pesquisa. Essa recuperação, entretanto, não é igual para todos os segmentos. Alguns setores como o agronegócio, indústria alimentícia e pet shop/veterinária apresentam maior capacidade de retomada, ao contrário de setores mais diretamente afetados, como turismo e economia criativa.
“O estancamento na queda de faturamento sinaliza um tímido movimento de recuperação. Mas ainda estamos longe de vencer a crise. E sem o destravamento do dinheiro disponível nos bancos, essa retomada será extremamente lenta ou até fatal para os pequenos negócios, pois a reabertura implica em gastos e não necessariamente em demanda de clientes”, ressalta o presidente do Sebrae, Carlos Melles.
O levantamento do Sebrae também mostrou que as empresas vêm se adaptando ao novo cenário ao intensificar a transformação digital dos negócios e as vendas online. Nos últimos dois meses, no Paraná, houve um aumento de 31% para 46% das empresas que estão utilizando ferramentas digitais para se manterem em funcionamento
Informações BEM PARANÁ Tem