

Vamos ter uma segunda onda no Brasil?
Resposta: Provavelmente, sim
“A segunda onda vai, seguramente se abater de maneira muito forte na Europa, mesmo em países com grande eficiência no sistema de saúde, tendo em vista a crescente ocupação de leitos hospitalares com casos mais graves. Sem dúvida, isso pode gerar medidas mais drásticas de todos os governos europeus.
Da mesma forma que os países europeus nos antecederam na primeira onda, essa segunda onda europeia pode significar muito para o Brasil.
Eu cheguei a usar uma metáfora da Tsunami: nós não soubemos aproveitar o recuo do mar, que é o que ocorre nas Tsunamis e nesta analogia representa os países europeus, que nos antecederam nessa epidemia. A situação da Europa pode ser um bom prenúncio sobre as medidas que o Brasil precisa adotar para evitarmos uma segunda onda tão severa.
Porém, nós não soubemos aproveitar essas primeiras lições da Europa, de modo que a epidemia bateu no Brasil de uma maneira muito rápida, muito intensa, com um resultado bastante dramático logo de início nas primeiras semanas.
Portanto, a segunda onda de infecção já era razoavelmente esperada na Europa depois das grandes reaberturas durante o verão europeu. Ao subestimar o poder da infecção, nós abrimos margem para os casos voltarem a subir. Uma segunda onda nunca está descartada, principalmente no Brasil.
Não é muito surpreendente que esteja havendo essa segunda onda, considerando que estamos falando de viroses respiratórias de transmissão não pessoa a pessoa, mas com o R, que é aquela taxa de transmissão comunitária, bastante alta, que chega até em níveis de um para três em determinadas situações.
Vacinas saem ainda este ano?
Por tudo o que estamos cientes e acompanhando de perto nós não teremos vacinas no ano de 2020. Todas essas conjecturas já mostram isso.
Pelo desenvolvimento das fases três [última fase antes da aprovação] das diversas vacinas em teste, inclusive no Brasil, o não atingimento do número de voluntários necessários e do número de casos de Covid-19 entre os voluntários vacinados, para permitir uma análise, mostra que ainda levaremos mais tempo, provavelmente este mês de novembro todo.
Depois disso, ainda teremos uma análise mais profunda, um pedido de registro e a definição das diretrizes logísticas e de distribuição da vacinação. Então, de forma realista, não podemos prever vacinação no país antes do primeiro semestre de 2021.

Vamos ter um segunda onda no Brasil?
Resposta: Possivelmente, sim
“A população, tanto aqui no Brasil, como nos Estados Unidos e na Europa, está exausta. E ninguém gostaria de ver sua liberdade restringida novamente, então qualquer medida que conseguir fazer uma boa contenção da pandemia sem a necessidade de recorrer a um lockdown é válida.
Essa segunda onda na Europa deve ser olhada como sinal de alerta para o Brasil, para que o país se prepare para uma possível segunda onda por aqui, por mais diferente que sejam as realidades entre os países.
Não podemos assumir uma posição em que se pensa, de maneira mágica, que a segunda onda só acontece em outros países. É mais ou menos o mesmo pensamento mágico que tivemos em janeiro, quando vimos os casos subindo na Europa e achamos que não chegariam aqui. É o momento de olhar para esse sinal de alerta com cautela para nos prepararmos para uma possível segunda onda no Brasil também, em vez de ficar imaginando que isso nunca vai acontecer aqui.
Uma segunda onda de infecções acontece em diversos países, e aqui no Brasil não tem por que ser diferente, por inúmeros fatores e variáveis. Enquanto a gente não tem soluções mais efetivas como uma vacina, a gente sabe que o vírus não foi a lugar algum, ele continua circulando entre nós, uma segunda onda de infecção é sempre esperada.
Por que a segunda onda está acontecendo?
A pandemia nunca tem uma única causa. Mas uma maneira simples de exemplificar isso é entender que os números gerais de uma pandemia dependem do número de pessoas suscetíveis ao contágio, que estão em circulação.
O vírus é transmitido de pessoa para pessoa, ele precisa de pessoas em contato. Então, quando boa parte das pessoas estão reclusas, cumprindo a quarentena, evitando ao máximo contato com outras pessoas, essa taxa de transmissão cai.
Quando a gente começa a fazer uma reabertura e a reinserir essas pessoas na circulação da cidade, a taxa de transmissão comunitária sobe, por que o vírus encontra mais pessoas suscetíveis, que antes estavam protegidas, porque não estavam circulando.
Na Europa, principalmente os jovens voltaram a circular, pela exaustão que a própria quarentena causa. Nós vemos jovens mais aglomerados e indo com mais frequência a restaurantes, bares, festas, o que aumenta muito a taxa de transmissão comunitária e acaba causando uma segunda onda.
Vale dizer que isso está acontecendo em alguns estados dos EUA, mas reforço que devemos olhar para esses países exatamente como uma medida de cautela.
Como tentar mitigar os efeitos de uma segunda onda no Brasil?
Novamente, o Brasil deve se preparar para esse cenário tentando uma boa comunicação com a sociedade, para que a gente não repita os mesmos erros do início da pandemia. É essencial contar efetivamente com a colaboração da sociedade, lembrando que vai ser mais difícil agora, porque a população está cansada de uma quarentena prolongada e mal feita, que trouxe poucos resultados.
[A quarentena] Poderia ter trazido resultados mais representativos, então isso causa uma frustração na população. E é com essa população frustrada que vamos ter que tentar uma boa comunicação efetiva, que traga a população para perto do cientistas, para que a gente possa contar com a colaboração deles para evitar uma segunda onda muito severa no Brasil.
As medidas que vão se refletir mais diretamente no nosso número de casos e mortes são: comunicar bem a população, para contar com a sua colaboração; implementar boas medidas de quarentena, com distanciamento físico e social; e conscientizar as pessoas sobre a higiene das mãos, sobre a importância de evitar aglomerações e incentivar o uso de máscaras.
Quando relaxamos e colocamos mais pessoas em circulação, a taxa de transmissão tende subir. É simplesmente assim que funciona: a taxa de de transmissão não é fixa, ela é móvel, ela depende justamente do comportamento das pessoas e das medidas.
Vacinas saem ainda este ano?
Em relação às vacinas, é bastante irresponsável prometer datas de entrega, sendo que nenhuma das vacinas concluiu a fase três de testes.
Antes disso não tem como falar em data de chegada, em data de entrega, em data de produção e em data de vacinação. Não é possível colocar uma data de vacinação e prometer doses se ainda não não temos como prometer que essas vacinas vão funcionar, o quanto vão funcionar e quando nós teremos doses em suficientes para conseguir organizar as campanhas de vacinação e efetivamente vacinar as pessoas.
Então, entre concluir a fase três, a aprovação pelas agências regulatórias e ter a vacina disponível para toda a população no posto de saúde, tem um intervalo de mais ou menos uns seis meses.
Uma medida razoável seria pensar, mais ou menos, no meio do ano que vem, se tudo correr bem, se não tivermos nada no caminho atrapalhando a conclusão da fase três.
Nós não devemos começar a prometer datas para a entrega dessas vacinas antes disso. Uma vacina segura e eficaz é a forma mais efetiva de começar a controlar a taxa de transmissão de uma epidemia.
E não quer dizer que começou a vacinar acabou pandemia: é um processo que demora até vermos os efeitos práticos da vacinação. Mas sem uma vacina, vamos ter que monitorar constantemente os números para garantir que a taxa de transmissão permaneça baixa. E é possível que ocorram surtos ocasionais ou que a doença, com o tempo, se torne endêmica ou sazonal, mas não temos como prever.
Para saber como vai ser o comportamento do vírus daqui para frente, temos que contar com um bom sistema de monitoramento e rastreamento, com muitos testes para identificar surtos locais mais rapidamente.”