O médico urologista Arthur Vinícius de Andrade foi preso, nesta sexta-feira, por homicídio culposo após não atender a paciente de câncer Elisangela Souza de Almeida, de 45 anos. Ela morreu depois de aguardar mais de cinco horas por atendimento no Hospital Federa do Andaraí, na Zona Norte do Rio. Ele foi preso, e acabou liberado horas mais tarde após pagar fiança de R$ 10 mil. Arthur Vinícius vai responder por homicídio culposo e lesão corporal. Os hospitais federais do Rio passam por uma crise com 455 leitos fechados e reduziram internações em 18%.

Médico flagrado dormindo pela PM
Em depoimento na delegacia, um dos policiais militares que atenderam a ocorrência relatou que ao chegar no hospital recebeu os relatos da família da paciente sobre a demora no atendimento. Os familiares disseram que chegaram à unidade por volta de 0h30 com Elisangela vomitando sangue. Arthur Vinícius teria dito que o Hospital do Andaraí não tinha atendimento específico para ela. Porém, após insistência da família, ele pediu um exame de sangue, que ficou pronto duas horas depois. Mas, cerca de 1h30 sem atendimento após o resultado, a família pediu ajuda à PM.

Ao chegar ao hospital, os policiais foram tentar ouvir o médico sobre os fatos. Primeiro, o PM pediu para uma enfermeira chamá-lo, mas ela não retornou. Por volta das 5h, ao ir ao alojamento dos médicos procurar o urologista, o policial encontrou Arthur Vinícius dormindo. Ao ser questionado pelo policial, o urologista afirmou que outra médica iria atender a paciente. A profissional tomou conhecimento do caso e pediu uma tomografia para avaliar Elisangela.

Após o pedido do exame e o atendimento da médica, os agentes iriam embora. Quase embarcando na viatura, no entanto, foram chamados novamente pela família de Elisangela, pedindo auxílio porque ela voltara a passar mal e estava vomitando sangue. Ao chegar no local da tomografia, os policiais flagraram diversos profissionais prestando assistência à paciente, com exceção de Arhur Vinícius. Com a piora, os profissionais a levaram para outra sala, onde também estava o urologista. Após o fato, a médica e Arthur Vinícius comunicaram a morte de Elisangela para a família.

Elisangela, que deixou marido e duas filhas, estava tratando um câncer de laringe e passou mal na noite da última terça-feira. Ela foi levada para a UPA de Nilópolis mas, como a unidade não possuía profissionais capacitados para atendê-la, a família a levou para o Hospital Municipal Souza Aguiar, onde a mesma justificativa foi dada, e depois para o Hospital do Andaraí, que é federal. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio afirmou que ela foi atendida pelo Centro (emergência clínica do complexo hospitalar do Souza Aguiar) e foram prescritos medicação e exames para o quadro de emergência. No entanto, a paciente, segundo a SMS, deixou a unidade à revelia, sem aguardar a conclusão dos exames.

A família de Elisangela, porém, contesta a nota enviada pela SMS e ressalta que seguiram para o Hospital do Andaraí após indicação recebida no próprio Souza Aguiar.

— Nós não iríamos fechar uma porta que se abriu para ajudá-la. Seguimos para o Andaraí após a médica do Souza Aguiar dizer que ali não havia o atendimento que ela precisava, que ali só poderiam administrar dipirona e que o melhor seria seguir para o Andaraí, pois poucos saberiam que a emergência de lá estaria funcionando. Essa nota não diz a verdade, nós jamais sairíamos à revelia de lá no estado que ela estava — disse Priscila Azevedo, enteada, e que acompanhou todo martírio vivido pela madrasta.

— Seguranças do hospital e enfermeiros foram chamá-lo e ele dizia que não viria. Ficamos aguardando por horas. Até que eu fui na assistente social e ela me disse que isso já era esperado, que a equipe daquele plantão era problemática. A própria assistente social me aconselhou a chamar a polícia. Só depois ele veio, aí levaram ela, mas era tarde e ela veio a óbito. E ele (o médico) ainda dizia que não iria acontecer nada a ele — contou Priscila.

O corpo de Elisangela foi sepultado, na tarde desta sexta-feira, no cemitério municipal de Mesquita, na Baixada Fluminense.

Em nota, a direção do Hospital do Andaraí afirma que foi aberto processo administrativo interno para apuração do fato. A unidade diz que o caso será “devidamente apurado pela unidade, e que não compactua com casos de negligência ou omissão de socorro”.

O médico prestou depoimento na delegacia, onde pagou fiança e foi liberado. Ele acusa a enteada de Elisangela de lesão corporal, durante uma suposta confusão após a morte da paciente. Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, ele trabalha como servidor do Hospital Federal do Andaraí desde 2014. Ele também atua no Hospital Municipal Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias, desde 2010.

No Hospital do Andaraí, ao longo dos anos ele atuou na emergência da unidade e também atendendo pacientes de UTI.

Fonte: O Globo

Foto: Redação 

PARCEIROS: